Novas tecnologias de diagnóstico e tratamento permitem abordagem individualizada e elevam índices de cura
Diagnósticos cada vez mais precoces, técnicas inovadoras para caracterizar o subtipo do tumor e, principalmente, os avanços no tratamento compõem a trinca de fatores que tem feito aumentar expressivamente os índices de cura do câncer de mama, ao mesmo tempo em que tem feito diminuir os procedimentos mais agressivos e mutiladores. Os indicadores, evidentemente, evoluem de maneira mais acelerada nos países desenvolvidos e em instituições de primeira linha de países como o Brasil, onde estão disponíveis os recursos e equipes mais especializadas.
O avanço na subclassificação dos tumores atrelado à disponibilidade de tratamentos mais personalizados estão desenhando horizontes muito mais promissores para as pacientes com câncer de mama, mesmo quando o diagnóstico não é tão precoce. Fatores associados ao perfil da mulher moderna – alimentação inadequada, terapia hormonal, sedentarismo, obesidade e gestação tardia – podem aumentar o risco de desenvolver o câncer. Mas, mais impactante que esses fatores, o histórico familiar, associado em alguns casos à predisposição genética hereditária ao câncer, é que deve chamar a atenção das mulheres. Quem tem ou teve parente próxima com câncer de mama ou ovário deve começar mais cedo os exames de controle e, idealmente, procurar a orientação de um oncogeneticista. Se para as mulheres de forma geral a recomendação é iniciar rastreamento com mamografia a partir de 40 anos, quem tem histórico familiar deve fazê-lo a partir de 30 anos ou até mais cedo em alguns casos.
Em termos de diagnóstico, um avanço importante veio com a mamografia digital. “Ela permite diagnóstico muito mais precoce, pois identifica microcalcificações, que antes não eram visualizadas e que estão presentes em 30% a 40% dos tumores, e tumores nodulares muito pequenos”, diz o Dr. Antonio Luiz Frasson, mastologista do Einstein. Além da mamografia e da ultrassonografia, a partir do ano 2000 a ressonância magnética engrossou o arsenal diagnóstico adotado para avaliação mamária em mulheres de risco elevado. Esses recursos aumentam o diagnóstico precoce, um dos fatores importantes associados ao sucesso no tratamento. Um estudo do Instituto Europeu de Oncologia com 1.258 pacientes com diagnóstico precoce de tumor de mama mostrou um índice de sobrevivência após cinco anos de 98,6%. Publicado no The Oncologist em 2010, o trabalho atesta a importância das modernas técnicas de imagem para uma evolução favorável e altas taxas de sobrevida.
Outro ponto a destacar, de acordo com o Dr. Frasson, é que, uma vez identificada uma alteração suspeita, biópsias orientadas por imagem dispensam cirurgias feitas apenas para avaliar se ela é benigna ou não.
As técnicas de análise patológica também evoluíram. “Além dos exames de imunoistoquímica, que avaliam os receptores de estrógeno e progesterona, a proteína HER-2 e o Ki67 (% de células em divisão), surgiram exames de perfil molecular que analisam até dezenas de genes no tumor, possibilitando predizer o prognóstico e a chance de resposta a determinados tratamentos. Isso permite tratar de forma mais individualizada tumores que antes eram tratados de maneira homogênea”, afirma o Dr. Rafael Kaliks, oncologista clínico do Einstein. “Podemos, por exemplo, poupar um número significativo de pacientes da quimioterapia, porque conhecemos melhor o tumor e o benefício que cada tratamento pode trazer”, completa.
Além das já tradicionais hormonoterapia e quimioterapia, vem aumentando o número de terapias-alvo, que conseguiram revolucionar o tratamento para pacientes cujo tumor expressa a proteína HER-2 em excesso. Mulheres portadoras desse subtipo agressivo de tumor contam hoje com várias terapias anti-HER-2, o que possibilitou fazer com que a doença, de prognóstico reservado, passasse a ter um prognóstico semelhante ao de casos menos agressivos. Além desses avanços, novas medicações vêm tornando possível prolongar o tratamento hormonal na doença avançada, ao ressensibilizar os tumores à hormonioterapia. Com isso, passa a ser possível retardar a quimioterapia. A individualização do tratamento também vem se tornando possível graças às informações obtidas pela biópsia de lesões metastáticas. “As características do tumor podem mudar ao longo do tempo e, dentro de certos limites, nós temos como adequar o tratamento a essas mudanças. Por isso, ao contrário do que se fazia antigamente, a biópsia pode ser repetida ao longo da evolução da doença, permitindo identificar as alterações nas características biológicas do tumor, com possível consequência no tratamento” diz o Dr. Rafael.
O tratamento cirúrgico também vive uma nova era. Os procedimentos mutiladores ficaram para trás. A qualidade dos exames de imagem, as técnicas cirúrgicas e os recursos tecnológicos de hoje permitem realizar cirurgias conservadoras com resultados curativos extremamente elevados e baixo ou nenhum impacto estético. “O tratamento cirúrgico ficou menor e mais rápido. Mutila menos e traz melhores resultados. Até o tempo de internação diminuiu, em geral, apenas um ou dois dias”, afirma o Dr. Frasson. “Mesmo em tumores maiores, quando a retirada da mama é indicada, as técnicas muitas vezes permitem conservar pele, aréola e mamilo, o que, combinado a próteses de melhor qualidade, permite a reconstrução da mama com ótimo aspecto estético”, destaca ele.
Em geral, os procedimentos cirúrgicos conservadores são seguidos por tratamento radioterápico, que também vem evoluindo em termos de precisão, com menor carga de radiação e melhor delimitação do campo irradiado. “Temos, ainda, a radioterapia intraoperatória, aplicada durante o próprio ato cirúrgico para alguns casos selecionados”, observa o Dr. Rafael. O recurso, que elimina a necessidade de seguidas sessões de radioterapia, pode ser adotado para algumas pacientes, em geral mulheres com mais de 50 anos, com foco único de tumor menor que 1,5 cm, receptores hormonais positivos e linfonodos axilares não comprometidos.
Tão importante quanto contar com esses recursos avançados é dispor de uma equipe multiprofissional especializada, capaz de combiná-los e explorá-los em benefício da paciente. É essa soma de profissionais dedicados ao diagnóstico e tratamento do câncer de mama que garante procedimentos menos agressivos, mais eficientes, com índices de cura cada vez mais elevados.